quinta-feira, 14 de abril de 2011

Brics querem medidas contra volatilidade nos preços de alimentos e energia

Gilberto Scofield Jr., enviado especial
 
SANYA (China). Produtores e consumidores intensivos de matérias-primas, os cinco países que integram o BRICS – Brasil, Rússia, Ìndia, China e África do Sul – encerraram hoje o seu terceiro encontro de cúpula em Sanya, no Sul da China, defendendo a adoção de mecanismos que reduzam a “excessiva volatilidade nos preços das commodities, particularmente de alimentos e energia”. Foi a saída encontrada por um grupo de países com interesses conflitantes para mostrar preocupação com um tema que vem ganhando espaço cada vez maior nas discussões do G-20 (o grupo das maiores economias do planeta) e num cenário em que distorções no câmbio e crescimento elevado vêm pressionando a inflação em vários países.
Mas ao contrário de alguns países desenvolvidos, como França e Alemanha, que pregam um mecanismo de controle nos preços de produtos alimentícios disfarçando suas próprias intenções protecionistas, a presença nos BRICS de grandes produtores de alimentos, como o Brasil, ou de petróleo, como a Rússia, fez o grupo focar no combate à especulação financeira – com maior regulação em mercados futuros de commodities, como derivativos - e no aperfeiçoamento dos cálculos de estoques como as principais armas contra a alta nas cotações.
“A volatilidade excessiva nos preços das commodities, particularmente de alimentos e energia, ameaçam a presente recuperação da economia mundial. Apoiamos a comunidade internacional no fortalecimento da cooperação para garantir estabilidade e forte desenvolvimento do mercado físico reduzindo as distorções e adotando regulamentação adicional dos mercados financeiros...A regulação do mercado de derivativos de commodities deve ser fortalecida para prevenir atividades capazes de desestabilizar os mercados. Devemos resolver o problema da falta de informações atualizadas e confiáveis sobre estoques e demanda nos níveis internacional, regional e local. Os BRICS vão estreitar a cooperação em segurança alimentar”, disse o comunicado.
- Precisamos combater a volatilidade nos preços agrícolas – afirmou o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh. Além dele, participaram da cúpula dos BRICS a presidente Dilma Rousseff, o presidente da China, Hu Jintao, o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, e o presidente da África do Sul, Jacob Zuma. O assunto é controverso nos BRICS e opõe produtores como o Brasil e a Rússia de consumidores e importadores, como China, Índia e África do Sul.
Os países do bloco criticaram também a “ameaça dos grandes fluxos de capitais” para os países emergentes, cujas taxas de juros, maiores do que as dos países desenvolvidos, atraem grande volume de recursos em busca de ganhos rápidos, provocando desequilíbrio na cotação das suas moedas. Os cinco países condenaram a forma lenta que o sistema financeiro internacional vem conduzindo as prometidas reformas que vão garantir mais segurança ao sistema como um todo, uma decisão que o G-20 havia tomado logo após a crise econômica ter se espalhado pelo planeta.
"Apelamos a uma maior atenção diante dos riscos que representam os fluxos em massa de capitais internacionais sobre as economias emergentes", diz o comunicado. Parte desse processo, dizem os países, será facilitado com mudanças no comando dos organismos multilaterais de crédito, como FMI e Banco Mundial. Para evitar que seu discurso fosse ingterpretado como um libelo contra os paíse ricos – durante o encontro a rede estatal de TV chinesa CCTV exibiu um programa que se perguntava se os BRICS eram uma ameaça aos países desenvolvidos – a presidente Dilma Rousseff tratou de destacar o caráter “neutro” do grupo.
- A agenda dos BRICS não se define por oposição a nenhum outro grupo. Queremos agregar – afirmou Dilma. - Somos a favor de um mundo multipolar, sem hegemonias nem zonas de influência.
Os países tocaram na questão cambial, mas apenas para defender as discussões sobre diversificar o uso do dólar como referência nas transações internacionais e a ampliação da cesta de moedas usadas pelo FMI em suas operações financeiras.
Para especialistas e diplomatas envolvidos nas negociações, o maior trunfo do grupo dos BRICS é servir como uma oportunidade de coordenação dos principais países emergentes para assuntos levantados nas discussões do G-20, o grupo de maiores economias do planeta.
- Trata-se de um grupo de convergência. Se não houver convergência, o diálogo já é o bastante – disse um diplomata brasileiro que encabeçou as conversas em Sanya.
Ou seja, o grande trunfo do grupo é permitir que seus membros saibam de antemão qual a posição que terão sobre temas polêmicos, antes que entrem em cena as economias desenvolvidas, cujo poder de pressão financeira nas grandes discussões econômicas mundiais é inevitável. Como não é um mecanismo formal de negociação, as conversas costumam ser mais abertas.

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