sexta-feira, 16 de abril de 2010

Grupo dos BRICs duplicou seu peso econômico em uma década


El País
do UOL Notícias

* Sergio Lima/Folha Imagem

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe o presidente da China, Hu Jintao, no Palácio do Itamaraty, em Brasília, antes da reunião dos Brics

Andrea Rizzi
Em Madri
Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Os quatro países emergentes - China, Índia, Brasil e Rússia - rumam para superar o G-7 em 2032

Jim O’Neill, economista do Goldman Sachs, cunhou a sigla BRIC em novembro de 2001, em um estudo com o qual apostou no Brasil, Rússia, Índia e China como principais motores do futuro crescimento da economia mundial. Na época, os quatro países representavam 8% do PIB global. Menos de uma década depois, já superam os 15%.

Mas não é só isso: a metade do crescimento da economia mundial depende deles, o grupo vai superar o G-7 em 2032 e a China ultrapassará os EUA em 2027. Tudo isso muitos anos antes do inicialmente previsto pelo Goldman Sachs. A ascensão econômica dos BRICs é tão poderosa que parece inconcebível que não continue sendo assim durante décadas e que o crescimento de seu peso político não cresça ao mesmo tempo. Mas, além da incerteza sobre se países com interesses tão diversos conseguirão forjar alianças políticas, mesmo que sejam temporárias, existem ameaças capazes de fazer algum deles sair do caminho de um crescimento poderoso?

O próprio O'Neill, diretor do departamento de Pesquisa Econômica Global do Goldman Sachs, esboça em uma conversa telefônica sua visão sobre o futuro dos quatro.

China - O gigante asiático permanece naturalmente sob constante observação de governos estrangeiros e analistas, devido aos riscos de desestabilização ligados à opressão que o regime autoritário exerce sobre a sociedade chinesa. Impulsos separatistas ou o simples desejo de liberdade e democracia poderiam sacudir violentamente o país e fazer descarrilar o trem chinês de sua via de expansão econômica.

Mas além desses cenários especulativos há uma ameaça que se afigura inevitável sobre a China: o enorme problema demográfico que logo explodirá por causa da política de limitação de nascimentos. Esta controlou o transbordante crescimento da população, mas levará a uma pirâmide populacional sobrecarregada na parte superior, com uma enorme quantidade de idosos, e uma disponibilidade reduzida de pessoas em idade de trabalho - as gerações de filhos únicos, atualmente jovens, terão de sustentar as gerações anteriores, muito mais numerosas.

"É um problema grave, haverá uma contração da força de trabalho, e calculamos que o crescimento chinês vá desacelerar por causa disso", diz O'Neill. "No entanto, não será motivo suficiente para impedir que a China se transforme em breve na maior economia mundial."

Índia - O outro gigante asiático, uma democracia consolidada sem problemas de envelhecimento, enfrenta problemas de ordem diferente. Um dos mais graves é a absoluta deficiência do sistema educacional. "A Índia tem um enorme problema com a educação, centenas de milhões de cidadãos são analfabetos", indica O'Neill.

Outro grave perigo é a fragmentação constante da estrutura administrativa do país. Em 1971 a Índia era formada por 16 estados. Hoje são 28, e não faltam novos movimentos de secessão. A descentralização pode ser virtuosa, mas aqui se trata de uma pulverização que pode complicar a gestão do quadro macroeconômico, que, segundo O'Neill, é uma das fragilidades do país. "A Índia é o país menos verossímil dos quatro em questão de controle do quadro macroeconômico", adverte. A dívida do país supera 80% do PIB.

Rússia - É o país mais frequentemente indicado como o elo frágil da cadeia. "Sem dúvida é o que enfrenta os mais graves problemas, mas considero uma loucura tirá-lo do grupo. Apesar de ter sofrido a crise mais que os outros, a Rússia havia crescido além da previsão nos anos anteriores", comenta O'Neill. Seus principais problemas são claros: o tremendo declínio demográfico - uma queda de 149 milhões para 142 milhões de habitantes entre 1991 e 2010 - e a falta de diversificação de uma economia centrada nos recursos energéticos.

"Nesse capítulo, deve-se salientar que depois da crise não só Medvedev, mas também Putin, está defendendo com insistência uma diversificação produtiva. Parecem conscientes do problema, e esse é, embora modesto, um sinal de esperança", diz O'Neill. Em todo caso, recursos energéticos, força militar e um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU garantem à Rússia um papel proeminente no mundo do século 21.

Brasil - A consolidação democrática e a ascensão econômica brasileiras reforçaram notavelmente a situação global do país latino-americano. Seu índice de crescimento econômico, porém, foi inferior ao dos outros BRICs. O'Neill destaca "a excessiva dependência de matérias-primas e produtos básicos" e a ainda "escassa presença no comércio global" como elementos problemáticos para o futuro do Brasil.