sexta-feira, 12 de junho de 2009

Brics buscarão maior projeção mundial em sua primeira cúpula

da France Presse, em Moscou

Os países do grupo conhecido pela sigla Bric --Brasil, Rússia, Índia e China-- se reunirão na terça-feira (16) em sua primeira cúpula na cidade russa de Ekaterinburgo (leste), na busca por um papel de maior destaque mundial e na tentativa de mostrar unidade ante as grandes potências.

Embora os quatro países estejam determinados a agir juntos durante a crise econômica e nos próximos anos, ainda estão longe de contrapor a instituições globais já estabelecidas. Tampouco está claro se o presidente russo, Dimitri Medvedev, seus colegas brasileiros e chinês, Luiz Inácio Lula da Silva e Hu Jintao, assim como o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, conseguirão pôr-se de acordo para criar uma entidade internacional mais permanente.

"A Rússia acredita que este formato é mais promissor tanto econômica quanto politicamente", disse a porta-voz de Medvedev, Natalia Timakova, embora tenha se mostrado muito mais prudente na hora de falar dos envolvimentos da cúpula. "É muito cedo para fazer previsões", afirmou.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Andrei Nesterenko, disse que os líderes dos quatro países vão assinar uma declaração que pedirá "a formação de uma ordem mundial mais justa e mais democrática".

Nesterenko também tentou encerrar a polêmica sobre se a cúpula teria como objetivo desdenhar o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. "Não será feita nenhuma recriminação a ninguém", afirmou o porta-voz.

Segundo os analistas, os Brics estão mostrando uma crescente vontade de coordenar esforços, para conseguir maior projeção internacional. Os quatro países poderiam converter-se nos principais compradores dos primeiros bônus que o FMI (Fundo Monetário Internacional) está preparando para emitir, a fim de cumprir com a obrigação dos países ricos e em desenvolvimento de repassar US$ 1,1 trilhão ao Fundo e outras instituições para ajudar as nações mais pobres.

A China adiantou que está planejando comprar até US$ 50 bilhões em bônus, enquanto Rússia e China poderiam comprar cada um obrigações de US$ 10 bilhões.

O Fundo saudou a "liderança" e o 'compromisso' demonstrados pelo Brasil, que emprestará US$ 10 bilhões ao organismo multilateral, disse na quarta-feira (10) seu diretor-gerente, Dominique Strauss-Kahn.

"O Brasil demonstra mais uma vez a firmeza de seu papel como destacada economia emergente", afirmou Strauss-Kahn, citado em um comunicado do FMI.

O empréstimo será efetuado através da aquisição de bônus do organismo, anunciou também na quarta-feira o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

O compromisso de contribuir com o capital do FMI foi adotado em abril durante a reunião de cúpula do G20 (grupo que reúne representantes de países ricos e dos principais emergentes) em Londres, no auge da crise financeira mundial.

Nos últimos meses, tanto a Rússia como a China elevaram suas críticas ao sistema monetário internacional dominado pelo dólar e pediram reformas das instituições financeiras internacionais e o estabelecimento de uma nova moeda de reserva mundial para evitar uma nova crise.

Para Rory MacFarquhar, economista do banco americano Goldman Sachs, a cúpula será mais política que econômica.

"Existe um interesse considerável, da parte de todos os países do Bric, mas da Rússia em particular, de criar uma alternativa" às instituições internacionais já existentes", declarou o analista à agência de notícias France Presse.

Vladimir Osakovski, do banco italiano UniCredit em Moscou, compartilha a mesma opinião. A ideia de uma nova moeda de reserva é mais uma forma de fazer muito barulho politicamente que "um primeiro passo para a criação de um novo instrumento de política econômica mundial", destacou.

Essa perspectiva necessitaria muitos anos para ser concretizada, advertiram os analistas. Antes de consegui-lo, o Bric terá que fazer uma fusão de suas economias, renunciar às próprias moedas e ao controle de sua política monetária, explicou Osakovski.